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texto Pitta
Da
acumulação
por Fernanda Pitta
Quando
Gustavo Ferro apresentou sua proposta ao CCSP as perguntas que seu
trabalho despertava diziam respeito a capacidade do espaço do centro
cultural, com suas características agigantadas e de intensos fluxos,
de reagirem às estratégias de adensamento e expansão
características dos organismos criados por Ferro. Ficava a dúvida
se o espaço se transformaria no campo de trocas, maturações e
experimentações que pretendia o artista, num organismo em evolução
constante, em transformação. A dificuldade de transportar para uma
escala tão díspar um procedimento que o artista realiza em sua
casa-atelier parecia impeditiva (dado que ele a realiza numa
aconchegante casa de dois cômodos, não num grande centro cultural
de milhares de metros quadrados), mas era por ele defendida como um
experimento válido que não resultaria em deterioração da proposta
nem em museificação do procedimento. O artista optou, ao contrário
da proposta inicial, em não continuar o processo de adensamento de
materiais àqueles reunidos no ambiente desde a abertura da
exposição. Limitou-se ao conjunto composto por alguns objetos em
situação de equilíbrio, pinturas em duas paredes colocadas em vê,
plásticos de diversas cores presos por fitas adesivas coloridas no
chão e nas paredes. Certamente, o surgimento do organismo vivo não
se deu como na proposta original. Para Ferro, entretanto, que encara
o seu trabalho como uma série de pesquisas e experiências, menos
como a realização de projetos que têm necessariamente como
critério o “dar certo” ou “dar errado”, esse não é um
grande problema. Como jovem artista, a atitude parece muito salutar,
saber alterar o rumo, repensar a trajetória, reavaliar as ambições
fazem parte do aprendizado. Soltar o trabalho no mundo também. E
pode ser que daqui a alguns anos o trabalho volte e retribua ao CCSP
e a seu público “com os juros e com os juros dos juros”.
(Texto publicado no catálogo da I Mostra do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, 2010)